Desde os três anos rodeado pelo barro, Manuel Macedo e os oito irmãos trabalharam sempre entre feiras. Ajudavam a prepará-las e iam com o pai vender louça, enquanto a mãe tratava da lide da casa. Era uma vida de dificuldades, num meio extremamente pobre e onde cada dia contava para sobreviver. Manuel construiu a sua própria casa, para onde se mudou quando casou.

Entretanto esteve na guerra do ultramar, em Moçambique, onde foi atingido por um tiro, ficando com uma invalidez para a vida. Do azar fez a sua sorte e construiu uma pequena oficina em casa, onde desde então trabalha o barro sozinho, à mão. Diz que nunca se deu com a roda e que, como entende que quem procura este tipo de trabalho valoriza o trabalho das mãos, também nunca lhe sentiu a falta. Molda e pinta; faz de início ao fim as suas peças, que traduzem aquilo que vê e aquilo que conhece.

Representa com grande minúcia, nas suas peças, a realidade que observa, como o traje minhoto, as joias, as caras e enfeites, flores e adereços. Cria muito minhotas e minhotos, cenas da vida rural e do quotidiano, incluindo lavradores e outras profissões ligadas à terra onde vive. Entre os seus trabalhos destacam-se também presépios, que vão dos mais pequenos aos mais completos – cenários complexos, que juntam as figuras do quotidiano à cena bíblica. Recorda que foi aos sete anos, numa feira em que acompanhou o pai no Porto, que decidiu que criaria um dia as suas próprias peças.

Vizinho de banca da Rosa Ramalho, a artesã que inaugurou a famado figurado de Barcelos, o pequeno Manuel aproximou-se das suas peças e franziu o sobrolho. Disse-lhe: “Ai que coisa tão feia!”. “Oh rapaz, vai-te embora, tu não sabes nada”, respondeu-lhe a experiente Rosa. O rapaz convenceu-se que conseguia fazer melhor do que aquilo. Hoje, trabalha o barro ao mesmo tempo que a terceira geração os Ramalho. Uns dirão que conseguiu, de facto, fazer coisas mais bonitas; mas ficará sempre ao cuidado e gosto de cada um.